Para que o treinador de natação possa organizar e estruturar o plano de carreira de um nadador, isto é, estruturar de forma coerente o processo de treino dos seus nadadores a longo prazo, é fundamental que conheça as características e as exigências da modalidade.
A natação é em muitos casos um desporto peculiar. Desde o ponto de vista fisiológico, as provas de natação estão dominadas por provas anaeróbias, apesar que a prática para a maioria das distâncias está associada a sessões de treino aeróbio. Uma análise superficial do planeamento de treino dos nadadores de elite, permite compreender a sua grande capacidade aeróbia, uma vez que treinam 8-12 vezes por semana com um volume entre 4.000-12.000 metros por sessão.
Quando olhamos para uma competição de natação, logo verificamos que se trata de uma modalidade caracterizada por repetições constantes, segundo ciclos de movimentos, e com variações de rendimento entre a distância mais curta, os 50 metros, e a maior, 1500 metros, cujo tempo poderá variar entre os 20 segundos e os 15 minutos, tomando como referência os nadadores de alto rendimento desportivo (A. Vasconcelos Raposo, 2006).
Esta elevada diferença, leva-nos na prática à necessidade de conhecer as características de cada distância e das técnicas que compõe o programa oficial de várias competições.
As provas individuais oficialmente reconhecidas pela Federação Internacional de Natação Amadora (FINA), são as seguintes:
- Crol – 50, 100, 200, 400, 800 e 1500 metros.
- Costas – 50, 100, 200 metros.
- Bruços – 50, 100, 200 metros.
- Mariposa – 50, 100, 200 metros.
- Estilos – 100 (piscina curta), 200, 400 metros.
Através da análise dos recordes do mundo, que por constante instabilidade não serão apresentados, mas onde poderão ser constantemente analisados numa pesquisa ao site da FINA, apercebemo-nos que a natação é uma modalidade cuja capacidade motora predominante é a resistência (Gomes Pereira, 1992; Costill, 1994; Maglischo, 1993; Navarro, 2003; A. Vasconcelos Raposo, 2006).
A aceitação, pela comunidade científica, em classificar a natação como uma modalidade cíclica, com elevadas exigências na resistência, obriga-nos a compreender a estrutura energética que emerge das diferentes distâncias oficiais.
Sendo assim torna-se necessário definir bem o conceito de resistência, pois após as investigações científicas, já vai longe o tempo em que se definia a resistência como a capacidade do nadador resistir ao aparecimento de fadiga. É preciso ter sempre presente que na natação a resistência não existe enquanto capacidade isolada. Assim para se definir, com rigor e à luz dos conhecimentos actuais, a resistência, deve ser vista como um tipo de rendimento analisado de acordo com um conjunto de parâmetros que vão permitir ao nadador manter um determinado rendimento durante um período de tempo o mais prolongado possível (Martin, 2001). Criar as condições que possibilitem ao nadador prolongar a capacidade de rendimento passa por se considerar 3 aspectos fundamentais (A. Vasconcelos Raposo, 2006):
- Qualidade de execução técnica – que contribui para uma melhor economia de nado.
- Caracterização fisiológica das diferentes distâncias da competição, ou seja, as correlações dos diferentes sistemas de energia perante cada distância competitiva, permitindo seleccionar os meios e os métodos mais adequadas que conduzam à especialização e ao alto rendimento desportivo.
- Conhecimento existente quanto à correlação da participação das diferentes capacidades motoras em cada uma das distâncias das competições e que fornece as informações imprescindíveis à organização pedagógica do processo de treino.
A compreensão de todo o processo fisiológico que caracteriza as várias distâncias das provas de natação pura é importante que o treinador possa organizar os programas de treino, quer numa direcção da preparação geral quer mesmo no que respeita aos objectivos específicos. Quando analisamos uma prova de natação impõe-se saber interpretar à custa de que processos fisiológicos, foi possível obter o rendimento alcançado (Faia, 2000).
O treino de resistência em natação de alto nível é muito importante para os nadadores de distâncias curtas como para distâncias longas. A tendência ao longo dos últimos anos tem sido adaptar mais e melhor os treinos de natação ao perfil fisiológico das distâncias em que compete. Para que o treino em natação seja mais efectivo, pode utilizar-se métodos de provas sofisticadas como a medição das concentrações de lactato sanguíneo. Para a resistência, as medidas do consumo máximo de oxigénio ou da frequência cardíaca são apropriadas para a avaliação da capacidade central, ao passo que as provas de rendimento do lactato referem-se mais às capacidades periféricas (Faia, 2000).
O processo fisiológico durante o exercício físico é fundamentalmente constituído por 3 processos bioquímicos: o processo anaeróbio aláctico, anaeróbio láctico e aeróbio.
De acordo com vários investigadores, Maglischo (1993), Troup (1991), Gomes Pereira (1992), Navarro (2001 e 2003) é possível caracterizar a participação percentual dos diferentes sistemas de fornecimento de energia nas várias distâncias. Essa distribuição tem sofrido algumas variações ao longo dos anos, devido ao recurso a equipamentos cada vez mais sofisticados para se proceder à avaliação dos nadadores. Assim, segundo Maglischo (1993), a contribuição relativa dos diferentes sistemas energéticos quanto à relação duração/distância, está apresentado no seguinte quadro:
Tabela 1: contribuição relativa dos diferentes sistemas energéticos quanto à relação duração/distância (Maglischo, 1993).
Relativamente à correspondência entre distâncias competitivas, metabolismo energético predominante a capacidade biomotoras relacionadas, apresentamos o seguinte quadro segundo Gomes Pereira (1992):
Tabela 2: Correspondência entre distâncias competitivas, metabolismo energético predominante a capacidade biomotoras relacionadas (Gomes Pereira, 1992).
A natação como modalidade cíclica e de resistência está muito dependente da herança genética dos nadadores. Trata-se de uma modalidade complexa, na qual os ganhos de rendimento estão dependentes em muito da economia de nado, da força muscular, da velocidade de deslocação, e de reacção e da capacidade do nadador superar as dificuldades inerentes aos processos físicos e mentais do treino e competição.
O rendimento competitivo em natação, que se pretende económico para todas as funções do organismo, não surge como resultado isolado de uma das capacidades motoras. Apesar da resistência assumir um papel preponderante, isso não implica que não possam surgir associações desta com outras capacidades motoras. De facto, é da relação estabelecida entre a resistência e as diferentes capacidades motoras que emerge a metodologia de treino a ser aplicada ao longo da carreira desportiva de um nadador. A partir da duração e velocidade a que são nadadas as provas, que se estabelecem as possíveis correlações entre os possíveis contributos de cada uma das capacidades motoras implicadas, conforme expresso no seguinte quadro:
Tabela 3: Correlações entre os possíveis contributos de cada uma das capacidades motoras implicadas em cada distância de nado (Ioan, 1979).
Conclusões:
- Como caracterização geral, comum a todas as provas a resistência aeróbia e anaeróbia é muito importante.
- A força está presente com uma maior ponderação nas provas de velocidade e a força resistente de curta, média e longa duração, respectivamente presente nos 100/200, nos 200/400 e nos 800/1500 metros.
- A velocidade, em todos os seus aspectos, está presente em maior quantidade nas provas curtas.
- A flexibilidade é uma capacidade a ser treinada ao longo da carreira do nadador, assumindo particularidades específicas em função de cada técnica de nado.
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