sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Mínimos Europeus de Juniores 2016

Esta partilha/reflexão não visa alimentar discussões sobre os actuais critérios, uma vez que por princípio terão sido definidos com o objectivo de aproximar a natação portuguesa à elite europeia nestes escalões. Com esta partilha gostava apenas que fosse efectuada uma reflexão para o futuro, sendo esta uma opinião pessoal, que poderá não ser partilhada por outros. 
O porquê desta reflexão?
  1. Esta tabela de mínimos para os europeus de juniores é a mais exigente da história na natação portuguesa.
  2. Em princípio, pela primeira vez participarão no Europeu de Juniores nadadores com menos 2 anos de idade e de treino do que em edições anteriores. 
  3. Ainda não se encontra disponível o regulamento específico da competição, que poderá sofrer alterações relativamente às edições anteriores.
  4. Em princípio poderão participar nadadoras com idades entre os 14 e os 17 anos e nadadores com idades entre os 15 e os 18 anos.
  5. É evidente que a progressão dos nadadores juniores na época anterior (2014/2015) foi observada por todos, mas será que se reflectiu sobre o porquê que isso aconteceu. A tabela de mínimos para o Europeu de Baku foi a mais acessível dos últimos 5 anos.
  6. Os nadadores poderão ou não ter acreditado desde o início do processo de treino que conseguiriam alcançar este Objectivo? Esta crença poderá ou não ter aumentado a motivação intrínseca e confiança nas suas capacidades individuais?

Estas são apenas alguma considerações e perguntas que faço, podendo inclusive estar a analisar mal os acontecimentos.
Mas existem outros factos:
  1. Se a tabela desta época estivesse em vigor para a obtenção de mínimos para os Jogos Europeus em Baku, os nadadores João Vital Guilherme Pina não teriam participado nesta competição! Acho que foi uma prova marcante para todos e uma injecção de motivação e confiança, pois estes nadadores obtiveram 100% de recordes pessoais na prova internacional seguinte. Não esquecer que o João Vital foi finalista no Mundial de Singapura.
  2. À partida, por esta tabela, a obtenção de mínimos é quase garantia de acesso às meias-finais e finais (em comparação directa com os resultados de Baku). Se o objectivo é ter o momento mais alto na competição e sendo expectável uma melhoria de cerca 1% então poderemos ainda subir mais na classificação.


quinta-feira, 26 de maio de 2011

Importância do Treino de Pernas

O conhecimento biomecânico, técnico e fisiológico sobre a importância e contributo do trabalho dos membros inferiores no desempenho global em competição evoluiu muito, demonstrando que assume um papel fundamental em qualquer técnica e distância. Os nadadores precisam começar a olhar para o trabalho de pernas com outros olhos, demonstrando elevado empenho, concentração e trabalho.

Dicas:

  • Relaxar as Pernas – batimento de pernas rápido e potente, com movimento fácil e relaxado.
  • A Potência nasce na Bacia – começa na bacia, coxa, joelho, tornozelo e pé.
  • Ritmo – importante desenvolver um ritmo de batimento de pernas contínuo.
  • Amplitude – a amplitude ajuda a tornar o batimento de pernas mais potente e eficaz.
  • Flexibilidade – fundamental a flexibilidade no tornozelo.
  • Força – a combinação da técnica, com a flexibilidade e força resulta num bom batimento de pernas.
  • Realizar tarefas de pernas em ritmos fortes – não usar estas tarefas para conversar com os colegas ou para relaxar.
  • Realizar trabalho subaquático forte – aproveitar ao máximo as inúmeras oportunidades de treino ao longo de um treino, ou seja, partidas e viragens.

Inclusão de tarefas de pernas num treino

  • Todos os treinos devem ter pelo menos uma tarefa de pernas. As tarefas podem ser realizadas com placa, sem placa ou através de percursos subaquáticos podendo solicitar todas as zonas de intensidade.
  • Realizar entre 10% a 20% do treino com tarefas de pernas. Mais importantes podem ser estas tarefas se os nadadores forem especialistas em provas de velocidade (50 e 100m).
  • Se a potência nasce na bacia, então grande parte do trabalho de pernas deve ser realizado de costas e com batimento de pernas no estilo de mariposa, ajudando a fortalecer esta zona.
  • Controlo e equilíbrio do corpo na água.
  • Ao longo de todo o planeamento, utilizando séries organizadas em função dos sistemas de energia, aumentar o volume e intensidade para melhorar a velocidade e potência do batimento de pernas.
  • Assim como definimos tabelas de intensidade e ritmos para os diferentes estilos de nado, também devemos incentivar e definir ritmos alvo em função dos objectivos.
  • Definir séries tipo ou testes padrão (400m pernas Crol/1ºEstilo), para avaliar a evolução ao longo do planeamento anual e da carreira. Com as marcas obtidas pode ser estabelecida uma tabela de recordes do clube, com prémios simbólicos a quem bater recordes.
  • De todo o trabalho realizado em pernas, não aconselho o uso de barbatanas em mais de 2%, uma vez que altera completamente a técnica de batimento de pernas.

Vejam os nadadores da Universidade de Auburn, conhecida pelos excelentes nadadores de velocidade que possui. A série é verdadeiramente impressionante pelas marcas que realizam numa série de 1800m em ritmo de batimento de pernas forte. Não se vêem conversas paralelas entre os colegas de treino. A tarefa tem objectivos definidos e é importante que sejam alcançados.

A série:

  • 4x50m a 1:30 (tempos realizados entre 36” e 41”)
  • 100m (tempos realizados entre 1:16 e 1:21)
  • 4x50m a 1:30 (tempos realizados entre 36” e 41”)
  • 200m (tempos realizados entre 2:43 e 2:58)
  • 4x50m a 1:30 (tempos realizados entre 36” e 41”)
  • 300m (tempos realizados entre 4:08 e 4:29)
  • 4x50m a 1:30 (tempos realizados entre 36” e 41”)
  • 400m (tempos realizados entre 5:39 e 6:00)


Swimming Videos on Floswimming

Auburn - Tarefa de Velocidade

Swimming Videos on Floswimming

Principais Aspectos de Treino:

- 2 nadadores por pista.

- 10 nadadores de elite mundial.

- Maior competitividade e qualidade no treino.

- Tarefa:

8x(4x50m) 4 a Livres e 4 a Estilos

1º50m com partida máximo 20m + 30 suave a 1:00

2º 50m com 30m máximo (viragem) + 20m suave a 1:00

3º 50m suave a 1:10

4º 50m máximo ritmo de 100m a 1:30

Total: 1600m (800m máximo e 800m suave)

sábado, 22 de janeiro de 2011

Resultados Desportivos – Objectivos

Quando desenhamos um programa de taper, treinadores e atletas devem estar atentos ao nível de resultados desportivos atingidos pelo atleta para que possa definir de forma realista os objectivos de rendimento e para avaliar a eficácia deste período após a competição principal. Definir expectativas irrealistas poderão ter um impacto negativo no estado psicológico e motivacional do atleta, daí o dever de procurar evitar a sua definição (Mujika, 2009).
Resultados alcançados em séries de treino típicas, poderão fornecer excelentes indicadores relativos à adaptação do atleta ao treino. A constante comunicação entre treinador e atleta pode fornecer informações mais valiosas sobre como as coisas estão a correr, do que qualquer marcador biológico ou qualquer escala psicológica. Baseado nestes instrumentos simples o programa de taper pode ser individualizado e aperfeiçoado (Mujika, 2009).
Treinadores e atletas nunca devem subestimar as consequências do taper em relação aos ganhos induzidos no desempenho desportivo, independentemente de eventualmente parecerem muito reduzidos (Mujika, 2009).
A aplicação do taper produz melhorias nos resultados desportivos, geralmente atribuídos ao aumento dos níveis de força e potência muscular, a incrementos neuromusculares, hematológicos e hormonais. Produz também melhoras no estado psicológico dos atletas, situando-se dentro de um intervalo de melhoria que vai desde os 0,5% até 6,0% (Mujika, 2009).

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Tipologias de Taper - Períodos de Optimização da Forma Desportiva

O termo taper é agora bem conhecido por aqueles que preparam os atletas de elite para a competição e é frequentemente usado em todo o mundo como referência à etapa final da fase de treino antes da competição principal.
Mas será que todos falam do taper segundo os mesmos conceitos de treino? A literatura científica indica que não (Mujika, 2009).
Houmard (1991) definiu claramente as diferenças entre os conceitos de redução de treino e de taper. Este autor indicou que a redução do treino ocorre quando a duração do treino, a frequência, a intensidade, ou alguma combinação destes elementos é reduzida por um degrau constante. Durante o taper, por outro lado, estas variáveis são diminuídas de forma sistemática e progressiva.
Figura 1. Os diferentes tipos de taper: taper linear, exponencial com lento e rápido tempo constante de queda de quantidade de treino e step taper (também referido como redução do treino) (adaptado de Mujika, 2009).

Quatro desenhos de treino ou modelos de taper têm sido descritos e usados actualmente na tentativa de optimizar o desempenho desportivo. Encontram-se apresentados na figura 1.
A carga de treino durante o taper é usualmente reduzida de uma forma progressiva, como se depreende pelo termo taper. Esta redução pode ser realizada de forma linear ou exponencial. Um taper linear normalmente implica uma carga de treino total maior que um taper exponencial. Além disso, um taper exponencial pode ter uma lenta ou uma rápida diminuição constante ao longo do tempo, onde normalmente a carga de treino é geralmente mais elevada na diminuição mais lenta. Também foram utilizadas reduções não progressivas padronizadas da carga de treino. Este procedimento de redução do treino, que normalmente mantém, mas também poderá melhorar muitas das adaptações fisiológicas e de resultados alcançadas com o treino, denominado como step taper (Mujika, 2009).
Alguns treinadores e atletas podem ter usado step tapers para a preparação da competição no passado. No entanto, vários estudos que usaram este modelo de taper em atletas bem treinados foram mencionados na literatura. Martin e colaboradores (1994) estudaram os efeitos deste tipo de taper em 2 semanas, combinando a redução da intensidade de treino, volume e frequência relativamente ao resultado no ciclismo e na força isocinética do quadricipete num grupo de ciclistas bem treinados. Estes autores verificaram que as maiores alterações no resultado desportivo ocorreram após o final da primeira semana de taper (8%), ao passo que as melhorias da força muscular do quadricipete (8-9%) alcançaram o seu máximo no final da segunda semana de taper. Houmard e colaboradores (1990), por outro lado, observaram que ao fim de três semanas deste modelo de taper, não encontrou qualquer tipo de melhoria relativamente a adaptações do treino de resistência em atletas de fundo no atletismo.
Considerando que a popularidade de ambas as abordagens progressivas e não progressivas de redução gradual, só uma intervenção de pesquisa comparou os efeitos de desempenho dessas abordagens em atletas altamente treinados. Após um mês de treino intensivo, os triatletas foram abordados para realizar 10 dias de taper em que a carga de treino fosse reduzida de forma exponencial ou em step taper com a mesmaduração. O primeiro modelo traduziu-se numa melhoria de 4% em todos os critérios dos 5 km de corrida e aumento de 5,4% no pico de potência medido no teste de rampa em ciclismo até à exaustão, enquanto o segundo modelo produziu melhorias não significativas de 1,2%. Após seis semanas adicionais de treino intensivo, os mesmos atletas foram sujeitados a 13 dias de taper exponencial, em que a constante de tempo de decomposição do volume de treino foi rápida ou lenta. Decorrente do taper exponencial de rápida redução resultou numa melhoria de 6,3% e 7,9% nas medidas critério de desempenho mencionadas anteriormente, considerando que a melhoria exponencial com o taper lento foi de 2,4% e 3,8%. Os autores concluíram que o taper exponencial era a melhor estratégia para atingir resultados superiores do que o step taper e que o protocolo de queda rápida era mais benéfico para a prestação desportiva do que o protocolo de queda lenta (Banister et al., 1999; Zarcadas et al., 1995).
Concluindo, a preparação para a competição principal, normalmente termina com um segmento de redução do treino habitualmente denominado de taper. No momento de planeamento do taper, os treinadores e atletas devem considerar a quantidade de carga treino a reduzir, a duração, e de que forma (progressiva ou brusca) para eliminar a fadiga acumulada com manutenção da adaptação provocada pelo treino. Os ganhos no desempenho desportivo durante o taper são maioritariamente o resultado da diminuição da fadiga acumulada. Mas as pesquisas também sugerem adicionalmente que as adaptações no desempenho podem ser alcançadas durante o taper. Adaptações reforçadas para a prestação desportiva incluem um positivo ambiente hormonal (mais testosterona e menos cortisol), mais glóbulos vermelhos no sangue (melhoria da capacidade de transporte de oxigénio), menor dano muscular e uma melhor preparação psicológica para enfrentar o treino e a competição. As pesquisas sugerem que a mais eficiente forma para reduzir a carga de treino é reduzir com configuração progressiva, de forma gradual, em vez de uma redução abrupta e por uma quantidade fixa. Recentes teorias, sugerem que uma redução progressiva da carga de treino e depois um aumento nos últimos dias antes da competição, quando os atletas estão bem recuperados e, assim, podem realizar uma qualidade de treino, também pode ser uma eficaz abordagem gradual. É provável que um modelo de taper ideal não exista e que os treinadores e atletas devem adoptar diferentes programas de taper para cada perfil individual de adaptação dos atletas (Mujika, 2009).

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Taper: Volume e Intensidade

O taper é um componente do processo de treino que deve ir de encontro às necessidades do nadador. O taper não é mais que uma preparação individual física e psicológica para competir ao mais alto nível possível (Sweetenham & Atkimson, 2003). Assim, segundo esta linha de pensamento, um taper programado e efectuado de forma igual para uma equipa de nadadores não funcionará da mesma forma para todos os elementos que a constituem.

Em muitos desportos as diferenças entre os três primeiros verifica-se por uma fracção de segundo. Portanto, os atletas de alto nível e os treinadores estão procurando continuamente métodos que irão ajudá-los a melhorar seu desempenho desportivo. No entanto, não nos devemos esquecer que o factor chave que influencia o desempenho físico é o processo de treino. Em particular, o treino físico da semana ou semanas anteriores à competição pode ser decisiva para o desfecho do mesmo (Ibáñez, 2007).

A carga de treino ou o estímulo do treino em desportos competitivos pode ser descrito como uma combinação da intensidade de treino, volume e frequência (Wenger e Bell, 1986). Esta carga de treino é marcadamente reduzida durante o taper na tentativa de reduzir a fadiga acumulada, sem que por isso se percam as adaptações provocadas durante o processo de treino. Um estímulo insuficiente de treino pode resultar numa perda total ou parcial das adaptações anatómicas, fisiológicas e de desempenho desportivo induzidas, ou por outras palavras, destreino (Mujika e Padilla, 2000).

Maglischo (2009) afirma que os nadadores devem manter a intensidade de treino igual ou muito próxima da utilizada até ao início do taper, por outras palavras, não se pode pensar que apenas se nada a um ritmo suave. Devem manter uma intensidade de treino muito próxima do limiar anaeróbio (acima dos 70% do VO2máx), pois pensa-se que é possível manter esta capacidade durante 5 semanas. Troup (1989) sugeriu que os nadadores realizassem entre 12% a 15% do volume de treino diário acima da velocidade correspondente ao limiar anaeróbio durante esta fase do processo de treino.

Recentemente, McNeely e Sandler (2007) indicaram que o treino de ritmo de competição nos dias finais antes da competição é importante tanto em relação a aspectos psicológicos como em relação a aspectos fisiológicos. Intervalos de ritmos de prova no final das sessões de treino permitem aos atletas sensações de velocidade, potência, e confiança desde que permita deixar o atleta com sensações de energia e não de fadiga.

A obtenção dos melhores resultados desportivos são obtidos com uma redução do volume de treino de 41% até 60% relativamente ao volume de treino antes de iniciar o período de taper, embora os benefícios de desempenho possam ser alcançados com reduções menores e maiores de volume de treino (Mujika, 2009).

Os volumes médios de treino semanal e das sessões de treino para nadadores de velocidade e de meio fundo durante o período de treino foram relatados por Stewart e Hopkins (2000). Os volumes de treino semanal durante o período de taper são significativamente inferiores aos verificados antes de iniciar este período de optimização das possibilidades rendimento, assim como da sessão de treino. Estes autores indicaram que houve redução substancial em todas as acções de distância, à excepção do nado fácil, desde a construção até à fase final do taper, para ambos os especialistas.

Os benefícios estatisticamente significantes, das reduções progressivas do volume de treino de 50% até 90% têm vindo a ser afirmadas em muitos estudos sobre natação, ciclismo, atletismo, triatlo e treino de força (Houmard e Johns, 1994; McNeely e Sandler, 2007; Mujika, 1998; Mujika e Padilla, 2003).